Análise: Indústria Sul-Africana critica ISDB-T em apresentação. Eles tem Razão ?

Dando continuidade ao assunto discutido no post anterior, vamos analisar a apresentação feita pelos executivos dos canais M-Net e E.Tv da África do Sul no último dia 08 de Junho.

Pra quem não leu o post anterior, no último dia 08 de Junho, os canais M-Net e E.Tv convocaram uma coletiva de imprensa para atacar o governo sobre a decisão de rever a adoção do padrão DVB-T feito em 2005 e ao mesmo tempo promover o padrão europeu. Quem quiser fazer o download do arquivo original usado na apresentação segue o link no final do post.

Adoção do Padrão

A apresentação começou com uma cronologia sobre o processo de migração digital no país africano.

Em 2005 a África do Sul decidiu pela adoção do padrão europeu (DVB-T) de TV Digital. Em 2008, o DVB-T foi selecionado como padrão para migração digital quando a *Cabinet aprovou a Política de Migração digital de adoção do DVB-T. Como resultado dessa seleção:

  • o Plano de Frequências de Transmissão Terrestre é baseado no DVB-T; 
  • a regulação final da migração digital feita pela *ICASA referencia o DVB-T;
  • a *SABS finaliza a especificação para set-top-boxes usando o DVB-T;
  • empresas de radiodifusão investem milhões em equipamentos. 

Em 2010, o Ministério das Comunicações põe na agenda a norma técnica para televisão digital terrestre. Um simpósio público é realizado em 29 e 30 de abril e apresentado ao parlamento em 01 de Junho.

Processo para Seleção do DVB

Em 2002, o Digital Broadcasting Advisory Body (DBAB) foi nomeado pelo Ministério de Telecomunicação para investigação de todos padrões existentes (ATSC, DVB, ISDB) e recomendou o DVB para a África do Sul. Segundo os expositores, o ISDB-T foi rejeitado porque:

  • operava apenas no canal de 6 MHz;
  • nenhum outro país fora o Japão havia adotado;
  • custo alto de set-top-boxes. 

Ainda segundo os expositores, em 2006, um novo estudo foi feito pela Digital Migration Working Group e novamente foi recomendado o DVB como melhor solução para o país.  

Processo Atual

Palavras dos expositores: “Apesar de 2 forças tarefas ministeriais independentes terem recomendado o DVB após uma profunda investigação dos padrões existentes, o Ministério agora considera uma mudança para o ISDB”.

“M-Net e E.Tv estão particularmente preocupadas com o impacto negativo de uma mudança a este estágio, já que o ISDB não possui nenhuma vantagem técnica com relação ao DVB”.

OS Mitos

Nesta parte da apresentação, os executivos dos canais apresentam e “desmentem” uma série de “mitos” que segundo eles foram perpetuados pelos defensores do ISDB em relação ao DVB. Vamos analisá-los:

Mito 1 O Padrão DVB se tornou obsoleto, é problemático e deficiente

A resposta: Para desmentir esse “mito“, os executivos disseram que: “O DVB-T é o sistema de TV Digital mais amplamente adotado no mundo, com mais de 150 milhões de receptores vendidos em mais de 40 países”.

Nossa opinião: O mito é sobre qual padrão é o mais adotado ou se ele possui problemas técnicos ? Para nós não houve uma resposta técnica satisfatória que desmentisse esse “mito”. E com relação ao mesmo, essa afirmação é correta. É tão correta que peritos sul-africanos recomendaram ao Ministério das Comunicações à exclusão do DVB-T dos testes técnicos. A diretora geral do Ministério das Comunicações Mamodupi Mohlala admitiu recentemente que a África do Sul fez “certo” ao rever sua decisão de adoção do padrão DVB-T. Tanto é que os europeus agoram investem suas fichas na segunda geração do padrão, o DVB-T2. O DVB-T tem como principais problemas, a portabilidade, já que a recepção por dispositivos móveis é deficiente, e a interatividade, que praticamente não usa a estrutura do “broadcasting televisivo” e sim a banda larga.

Mito 2 DVB-T2 é um novo padrão que foi criado por causa de problemas com o DVB-T

A Resposta: “DVB-T2 não é um novo padrão, é simplesmente um upgrade do padrão DVB-T, o qual foi desenvolvido pelo Grupo DVB para melhor eficiência do espectro”.

Nossa opinião: Upgrade ? Não é isso o que diz o Grupo DVB. Na página oficial do padrão (www.dvb.org) há um texto que diz o seguinte: “The new standard is designed for a post-ASO environment, where DVB-T services are already well-established. ” Traduzindo: “O novo padrão foi concebido para um ambiente de pós-ASO (analogue switch-off, ou apagão analógico), onde os serviços do DVB-T já estejam bem estabelecidos”. O texto deixa explícito que é sim um novo padrão e que deve apenas ser introduzido em um ambiente que já opere o DVB-T a algum tempo. Na página ainda há algumas frases interessantes:

“Products that implement the DVB-T2 standard are not likely to become widely available until 2010”. Traduzindo: “Produtos que implementem o padrão DVB-T2 não são susceptíveis de se tornarem amplamente disponíveis até 2010”. E tem mais:

“Whilst prices will fall over time, in line with past experiences for DVB technologies, they can be expected to be relatively high initially. This means that DVB-T2 should not, in the short to medium term, be considered for the launch of free-to-air multichannel standard definition services targeted at migrating a general population from analogue to digital. DVB-T is ideal for these purposes”.

“Embora os preços cairão ao longo do tempo, de acordo com experiências passadas para as tecnologias DVB, elas podem vir a ser “relativamente caras” inicialmente. Isso significa que o DVB-T2 nãodeve, no curto e médio prazo, ser considerado para o lançamento de serviços em definição padrão para multicanais mirando uma migração do analógico para o digital. Para esses fins, o DVB-T é ideal.”

Resumindo, os países que estão começando a migrar agora para a TV Digital são países em desenvolvimento, os quais os custos dos equipamentos pode ser um problema. O texto diz claramente que o DVB-T2 é caro e que não deve ser usado em países que já não operem o antecessor DVB-T. O próprio diretor executivo do DVB, Peter Siebert disse que os custos com equipamentos para operar o DVB-T2 é bem maior do que o DVB-T. Além do mais, os próprios europeus admitem que o DVB-T2 terá escala apenas em 10 anos. Hoje o DVB-T2 é operado apenas no Reino Unido.

Mito 3 A adoção do ISDB-T irá beneficiar a indústria local

A Resposta: Palavras dos executivos: “A adoção do ISDB irá prejudicar a indútria de fabricação local, porque o mercado para os set-top-boxes produzidos na África do Sul será para sempre restrito à aqueles poucos países que adotaram o ISDB”.

Nossa opinião: Para sempre é uma expressão forte, será pessimismo, realidade ou mais uma invenção da indústria sul-africana para influenciar a opinião pública ? O fato é que o ISDB vem quebrando barreiras, hoje não são só apenas países do eixo sul-americano que estão aderindo à norma. Países da América Central, Ásia e África estão de olho em nosso padrão. Praticamente todos os países que ainda não aderiram a um padrão, estão optando pelo ISDB. Dentre os últimos destacamos as Filipinas e a Costa Rica, países totalmente diferentes, distantes e com culturas diferentes. Se a *SADC decidir pelo ISDB serão outros 13 países do continente africano, potenciais países ainda incluem a Guiné Equatorial, Índia, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, e outros países da África oriental. Definitivamente será um grande mercado.

Mito 4 O ISDB-T é um padrão livre de royalties, diferentemente do DVB

A Resposta: “Ambos, DVB e ISDB, estão sujeitos às mesmas patentes, royalties e restrições de IP. Em particular, pagamentos de royalties para o OFDM (Sistema de modulação básica) e MPEG2 e/ou MPEG4, o sistema de compressão”.

Nossa Opinião: Eles mudaram o middleware ? Se não nos enganamos, o DVB usa o MHP/GEM o qual possui patentes envolvidas e que no final das contas “tem que pagar”. Nem mesmo os europeus apoiaram com total empenho o projeto MHP, considerado uma tecnologia cara e complexa. Admitamos também que o mercado europeu mostrou-se diferente do mercado de países emergentes. A TV Digital Interativa européia não é uma TV nas qual podemos acessar aplicações interativas e sim uma TV conectada á internet. Esse modelo não se adequa à países emergentes como Brasil e a países do continente africano, já que a porcentagem da população que possui acesso à banda larga em casa é mínima. Hoje, o projeto MHP está praticamente enterrado.

Mito 5 ISDB é uma tecnologia superior

A Resposta: Palavras dos executivos: “As diferenças técnicas entre o ISDB-T e o DVB-T1 são mínimas. Entretanto, DVB-T2 é de longe um padrão superior. Por exemplo, DVB-T2 possibilita 50% mais canais”.

Nossa Opinião: O ISDB-T é sim superior ao DVB-T1, prova disso são o número de países que vem adotando o padrão nos últimos anos. A adoção de um padrão de TV Digital não é um processo trivial, testes técnicos são realizados com participações não apenas do governo mas também da indústria de radiodifusão, empresas e instituições de ensino superior e de tecnologia. O ISDB-T é uma evolução do padrão DVB-T já que incorpora serviços mais eficazes como portabilidade, mobilidade e interatividade (livre de royalties). 

Impacto da Mudança para o ISDB-T

A apresentação continou com uma lista de consequências negativas se o ISDB-T for escolhido. Neste ponto os executivos não apontaram como “possíveis” essas consequências, ao contrário, eles “afirmaram” com todas as palavras que essas consequências irão acontecer. São elas:

  1. Consenso africano do padrão será indeterminada;
  2. Investimentos já feitos no DVB-T serão perdidos; 
  3. Consumidores pagarão mais pelos set-top-boxes.
  4. Atrasos serão causados;
  5. Falta de conhecimento e habilidade no ISDB-T terá impacto nos fabricantes emergentes da África do Sul.

1) Mudança para o ISDB-T irá indeterminar consenso Africano

Segundo a apresentação, se a África do Sul e os países que compõem a SADC optarem pelo ISDB-T, não haverá um padrão único no continente já que alguns países já transmitem o sinal DVB-T. Se isto acontecer, a África do Sul terá que coordenar com seus países vizinhos uma forma de evitar a interferência do sinal. Eles terminam dizendo que a “Capacidade dos fabricantes sul-africanos e de outras empresas em desenvolver produtos para todo o continente será prejudicada pela escolha do ISDB-T”.

Nossa Opinião: Um padrão único no continente é com certeza um fator importante para o mercado dos países africanos. Entretanto, a África possui 53 países e apenas 5 já optaram pelo padrão DVB-T (Quênia, Marrocos, Namíbia, Ilhas Maurício e Cabo Verde), um sexto país, a Tunísia, testa em caráter experimental. Portanto é uma forçação de barra dizer que a África irá entrar em “colapso” se o ISDB-T for adotado. Essa falsa “consequência” não pode ser levada em consideração no momento em que um país escolhe uma tecnologia de tão importância. Prova disso é a Colômbia, único país na América do Sul a adotar o DVB-T. Apesar de estar “ilhada” a Colômbia opera normalmente a TV Digital no país.

2) Investimentos já feitos no DVB-T serão perdidos

Segundo a apresentação dos executivos, se a África do Sul escolher pelo padrão ISDB-T, haverá uma perda estimada em 4 bilhões de RAND (moeda sul-africana). Como consequência, um financiamento público poderá ser necessário.

Nossa Opinião: Palavras do próprio governo sul-africano: “Os investimentos feitos pela indústria não serão perdidos, caso se opte pelo ISDB-T, já que os sistemas possuem os mesmos padrões de transmissão, modulação e codificação. “

3) Consumidores pagarão mais pelos set-top-boxes

“O ISDB-T não oferece economia de escala, apenas 8 países o adotaram. Isto significa que o preço de decodificadores ISDB-T ainda é muito alta, aproximadamente o dobro do custo de um set-top-box DVB-T saído da fábrica.”

“Como o DVB-T foi adotado por aproximadamente 120 países, qualquer um que o use pode se beneficiar pela economia de escala “. Eles terminam dizendo:

“Os altos preços de STBs ISDB-T irão desencorajar os consumidores – o governo terá que pagar mais por subsídios”

Nossa Opinião: Realmente os preços dos set-top-boxes DVB-T são mais baixos, alguns chegam a custar 39 euros (TVonics MDR240), algo em torno de R$ 80,00. Porém, como dito anteriormente, o padrão DVB-T já foi descartado pelo governo sul-africano, a briga é entre o ISDB-T e DVB-T2. E sabemos que o DVB-T2 não possui economia de escala e segundo os próprios europeus, só será competitivo em 10 anos.

4) Atrasos serão causados no lançamento da TV Digital

Segundo os executivos, ocorrerá um atraso de 3 a 5 anos no lançamento da TV Digital no país se o ISDB-T for adotado, predudicando prováveis oportunidades para a indústria local.

Nossa Opinião: Obviamente que os executivos da M-Net e E.Tv estão sendo pessimistas. Não acreditamos que a África do Sul possua uma comissão tão incopetente que levará de 3 a 5 anos para operar o sinal digital. Falamos isso em comparação com os países ao redor do mundo que elegeram um padrão e começaram a operá-lo. O Brasil decidiu pelo ISDB-T em junho de 2006. Em dezembro de 2007 já transmitia o sinal digital, ou seja, 1 ano e 6 meses depois. Na Argentina foi ainda mais rápido, depois de optar pelo padrão nipo-brasileiro em 28 de agosto de 2009, em abril de 2010, o canal 7 já transmitia conteúdo digital. A Colômbia optou pelo padrão DVB-T em 28 de Agosto de 2008. No começo de 2010 os três canais públicos (Canal Uno, Sinal Colômbia e Canal Institucional) já transmitiam digitalmente, 1 ano e 6 meses após a decisão. Mas o mais interessante é que a África do Sul e a SADC firmaram um acordo com o Grupo DVB-T em 2006, ou seja, são 4 anos de um acordo já firmado sem nenhuma transmissão digital. Os europeus não cumpriram o acordo de levar à TV Digital aos países da SADC, tanto é que a Copa do Mundo não terá transmissão digital no continente. É muita pretensão da indústria sul-africana falar em possíveis delays causados pela mudança para o ISDB-T. 

5) Falta de  conhecimento e habilidades no ISDB-T terá impacto nos fabricantes 

“O ISDB-T não foi desenvolvido ou implantado para operar em uma frequência de 8 MHz. Portanto não existem nem transmissores e nem receptores que operem nessa frequência. Em contraste, transmissores e receptores DVB-T que operam na faixa de 8MHz estão amplamente disponíveis, a um custo razoável e existe um conhecimento por parte da indústria da tecnologia.”

A Conclusão: “A África do Sul não se beneficiará de economia de escala se o ISDB-T for escolhido”.

Nossa Opinião: Todos os países que adotaram o ISDB-T operam na faixa dos 6MHz. Nem Brasil nem Japão operam em 8MHz, aliás não existiam nem equipamentos que pudessem operar nessa faixa. Como a maioria dos países africanos usam variantes do padrão analógico europeu PAL, o qual tem 625 linhas (e não 525 linhas), frequência de 50Hz (e não 60Hz) e canais de 8MHz (e não 7 ou 6MHz), a necessidade dos africanos é operar na faixa dos 8MHz. Isso era a grande cartada dos europeus contra o ISDB-T: A “impossibilidade” do ISDB-T operar em 8MHz. Porém parece que a M-Net, a E.Tv e toda indústria sul-africana parecem gostar de omitir alguns fatos. Em 31 de maio passado, todos ficaram perplexos quando os japoneses montaram uma super estrutrura na África do Sul para fazerem uma demonstração do ISDB-T em 8MHz. As transmissões ocorreram tanto em full-seg como em one-seg. Ninguém esperava uma agilidade para o uso do padrão nipo-brasileiro em outra faixa que não a de 6MHz, em função da logística e da escala de equipamentos. A última cartada dos europeus e da indtústria contra o ISDB-T foi por água abaixo.

A Conclusão

Depois de mais alguns textos, as emissoras terminam dizendo: “Nós continuamos com o compromisso de trazer à TV Digital para os sul-africanos. Mudanças a essa hora trariam atraso no lançamento da TV Digital e ameaçaria o switch-off em 2015. Porque ? Não há problemas com o DVB-T, o ISDB-T não nos traria benefícios. Os consumidores que pagarão a conta por qualquer mudança”.

“Estamos prontos para o digital !!”.

Para Finalizar: O poder da mídia é muito grande, e influencia grande parte da sociedade. É claro que esse é um movimento da indústria sul-africana contra o ISDB-T, e não do governo ou da sociedade. Mas por ser um assunto de difícil entendimento, a sociedade acaba que por “concordar” com a mídia mesmo sem entender os detalhes do problema. Percebemos também que esse movimento não é apenas um movimento da indústria sul-africana contra o padrão nipo-brasileiro, esse é um movimento de “TODO” continente africano. Uma matéria publicada no portal do jornal africano The Southern Times intitulada “Let’s Stop de Brazilians” – “Vamos parar os brasileiros” caracteriza bem o que acabei de dizer. O sentimento dos africanos é que uma invasão “territorial” brasileira é iminente. “Temos que parar os brasileiros senão eles tomarão nosso território”. Pelo que notamos das reportagens e dos comentários, a “guerra” iniciada pela indústria deu certo. A matéria do jornal pode ser acessado neste link.

Apesar do “clamor” da indústria e da própria sociedade, tudo indica que a África do Sul e a SADC optarão pelo padrão nipo-brasileiro de TV Digital. O simples fato da SADC rever sua decisão de acordo com o DVB-T mostra que os países da África Austral estão de olhos bem abertos no ISDB-T. Uma decisão sobre o padrão deve sair até o fim de Julho. É esperar pra ver.

Abraços da iTVBr, até o próximo post !!!!

*Cabinet: Nível mais alto do Poder Executivo do Governo da África do Sul. É composta pelo Presidente, o Vice-Presidente, os Ministros, e os vice-ministros.
*ICASA: Autoridade Independente de Comunicação da África do Sul. Regula os setores de transmissão e telecomunicações de interesse público.
*SABS:  Agência de padronização da África do Sul.
*SADC : Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral que inclui os seguintes países: África do Sul, Angola, Botsuana, Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurício, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue

Link Para Download do Arquivo Power Point da Apresenação da M-Net e E.Tv: Clique aqui.

Fonte: Artigo originalmente publicado no Blog da iTVBr (itvbr.wordpress.com)

1 Comentário

  1. José Carlos said,

    dezembro 22, 2010 às 12:39 am

    Muito bom e completo esse artigo. Mas opinião é sempre um ponto de vista, tomado de um determinado ângulo. Se quisermos ser bons vendedores precisamos aprender a nos colocar no lugar dos compradores, entender mais os seus problemas e não criar uma comitiva de políticos de governo para forçar os atores da iniciativa privada de outro país a engolir um produto totalmente pronto, que nunca desejaram. Essa abordagem de força bruta não ajuda no comércio internacional. Nós mesmos não gostaríamos que se fizesse isso conosco. E o comportamento do nosso mandatário máximo durante a copa do mundo, certamente não ajudou no entendimento cultural. Quem tem educação inglesa sente.
    E quanto à compra de decisões, isso pode funcionar em países onde a cultura aceita isso, como se faz todo o dia no Brasil sem que ninguém mais entenda que isso seja anti-ético, uma sutil forma de corrupção. E agora fazemos o mesmo com o Uruguai sem a menor cerimônia. Mas isso não funciona em todo e qualquer lugar, com toda e qualquer cultura. Pior ainda quando saímos posteriormente (à decisão) afirmando que vamos comprar decisões em países como Moçambique, Angola, etc (através de créditos do BNDES e outras facilidades).
    Quanto aos conversores DVB-T2 precisa retificar o artigo acima, já tem os primeiros zappers por 54 Libras ou 140 Reais ( http://www.techradar.com/reviews/audio-visual/digital-tv-receivers/metronic-t2-hd-zapbox-699025/review ) . A economia de escala do DVB-T2 é esperadamente muito alta pois é simplesmente a da reposição de toda a base DVB-T, após o respectivo switch-off analógico. E só essa perspectiva de longo prazo já induz a queda nos preços na indústria micro-eletrônica, que o considera nos seus modelos de negócios. E esse tipo de vantagem, que é bem real, que é de longo prazo e ligado ao bolso da população, havemos de concordar, se somos lúcidos, que não há como oferecer aos africanos. Como visto, sempre há ângulos diversos pelos quais se pode formar uma opinião. E os africanos formaram a deles. E pelo jeito não temos nem como recorrer ao STJ! Aprendemos com isso ou reclamamos? Abraços, Zé Carlos.


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