IESB – Seminário de TV Digital e Interatividade

Estivemos ontem (11/05/2010) em Brasília para participar do Seminário de TV Digital e Intertividade realizado pelo Instituto Superior de Ensino de Brasília. 

O Seminário contou com presenças ilustres em sua banca como a Dra. Cosette Castro, doutora em Comunicação pela Universidade Autônoma de Barcelona, o professor Dr. Luiz Fernando Gomes Soares, pós-doutorado pela École Nationale Superieure des Télécommunications e considerado o “pai” do middleware Ginga , o cineasta e roteirista Newton Cannito que assumirá esse mês o cargo de secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura e Lígia Girão, professora de Cinema e Mídias Digitais do IESB.

A primeira exposição foi da Dra. Cosette Castro. Em sua apresentação a Dra. frisou que estamos ainda no chamado “Estágio da Ponte“, não estamos num mundo analógico mas também não estamos no mundo digital, ou seja, fazendo uma analogia com uma pessoa atravessando a ponte, onde o começo da ponte significa o sistema analógico e o final da ponte é o sistema digital, estamos mais ou menos no meio, atravessando. Segundo ela há um caminho longo para o mundo se tornar digital, pois grande parte da população ainda não tem domínio e acesso a mídias digitais (celulares, computadores, internet, …). 

Para uma platéia composta principalmente de estudantes de jornalismo, publicidade, cinema e comunicação a Dra. focou no impacto que as mídias digitais causaram e causam na sociedade atual. “As novas relações estão se formando virtualmente, as pessoas estão mais públicas, todas querem ser vistas. O mundo virou um só, compartilhamos globalmente informações e a redefinimos à nossa maneira. ” O que causa uma grande mudança na fórmula atual do jornalismo, frisou ela. “Estamos funcionando 24 horas por dia, se ligamos a TV, temos um celular em nossas mãos para acessar à internet e escrever um texto no blog ou fazer um comentário no twitter”. O que, segundo ela, levou aos sociólogos a uma nova definição chamada de “24×7”, estamos 24 horas por dia, 7 dias na semana “conectados”. “Nossa posição não é desconhecida, não adianta enganar seu chefe pois ele irá te achar”, bricou ela.

A Dra. destacou a convergência de todos os meios de comunicação em torno da internet, as mídias digitais como (rádio e TV Digital, games e rede, cinema digital, computadores e celulares) e também as chamadas mídias transversais (DVDs, HQs digitais, ebooks, …).

Em relação á TV Digital, a Dra. explicou para a platéia o que seriam os conteúdos digitais interativos, que com certeza são muito além dos dados (áudio, vídeo, texto, imagem, …). Os conteúdos interativos devem permitir a participação direta do usuário, deve permitir também expressar sua opinião e até a própria construção do conteúdo. Alguns exemplos que ela citou foram o EaD, aplicações de entretenimento, aplicações T-banco, T-cidadania, dentre outros. 

Nessa nova fórmula que está se formando com a adição das mídias digitais ao nosso cotidiano, a Dra. destacou os “Novos Atores Virtuais” . Hoje o público é completamente ativo com as novas mídias de convergência. As audiências são completamente migratórias, pois se ao ligar a TV e aquele conteúdo não a interessar, o usuário pode tanto mudar o canal (o que não existia antigamente) como também mudar de mídia, ir para o computador, acessar à internet, fazer um download e escutar uma música em seu celular ou ligar o seu videogame. 

Mas é a TV Digital no país ?

Ela está presente em 98% dos lares brasileiros, significando um importantíssimo objeto de inclusão social no país. O Sistema Brasileiro de Televisão Digital permite a portabilidade, ou seja, você pode assistir á TV tanto em sua casa em uma TV LCD ou Plasma como em dispositivos móveis e permite também a mobilidade, podemos assistir tv em movimento. O controle remoto será cada vez mais parecido com um celular, sendo usado como um canal de retorno.

Um ponto importante da apresentação da Dra. Cosette Castro foi com relação ao digamos “mito” de que a TV Digital não pegou no país. Ela desmente essa expressão fazendo uma comparação entre a implantação do modelo analógico no país com a implantação do modelo digital. Ela concorda que a TV Digital ainda é cara e um privilégio de poucos, porém, segundo ela, “o Brasil fez história.” Quando a tv analógica entrou em operação no país, ela levou mais de 10 anos para ter sua própria linguagem, levou 10 anos para se tornar popular, ela ainda brincou que em sua época ocorria o chamado “Tele-Vizinho“, quem não tinha TV, ia à janela do vizinho assistir à programação. Com a Tv analógica levou-se mais de 10 anos para formar as primeiras gerações de técnicos, os técnicos eram todos “importados” dos EUA e levou mais de 30 anos para exportar conteúdos digitais. “Hoje o Brasil faz história porque exportamos a tecnologia”.

Para finalizar sua exposição, a Dra. Cosette listou alguns desafios para essa nova TV que se forma. Um ponto interessante que ela destacou é a “convergência de pessoas“. Necessita-se de projetos conjuntos de profissionais da computação, comunicação, design, engenharia, educação, … “Ninguém hoje faz nada sozinho, o engenheiro de computação entende de código, o designer entende da disposição que aquela imagem ocupará na tela da tv, o da educação entende do que é preciso colocar no aplicativo t-learning, e assim por diante”.

Na segunda apresentação da noite, o atual secretário do audiovisual do Ministério da Cultura, Dr. André Barbosa Filho não pode comparecer, em seu lugar foi uma assessora.

Ela destacou a imensa evolução que esse governo teve do anterior, tanto de trabalho como de mentalidade. Segundo ela, grande parte dessa evolução deveu-se ao ex-Ministro da Cultura Gilberto Gil que em seu primeiro dia de mandato disse a eles: “Não podemos fazer políticas novas com gente velha”. Segundo ela, esse novo pessoal que entrou, “cheio de gás” e com grande vontade de trabalhar fez a grande diferença nesse governo. Essa nova mentalidade levou o audiovisual a ser um “Tema Estratégico de Estado“, entenderam que deveriam trabalar o audiovisual em seu estado mais amplo e não apenas em plataformas tradicionais como TV e cinema. O resultado foi o grande fortalecimento da TV Pública no país, principalmente com a criação da TV  Brasil e programas de extrema qualidade como DocTV, o concurso de desenvolvimento de Jogos Demos Jogáveis, o JogosBR, que resultou em jogos de extrema qualidade e o fomento ao desenvolvimento de séries e animações que segundo ela “coloca a Malhação da Rede Globo e o Cartoon Network no chinelo”. “O Brasil possui um grande potencial, e saibam que existe um órgão no governo preocupado com conteúdo e audiovisual, idéias legais serão muito bem-vindas”, disse ela.

A terceira apresentação da noite foi do futuro secretário do audiovisual do Ministério da Cultura Newton Cannito. Newton que foi roteirista da premiada série 9 mm e Cidade dos Homens focou bastante no desenvolvimento de conteúdos, seje ele para qualquer tipo de plataforma. Segundo ele as pessoas ficam muito focadas na tecnologia, celulares, computadores, internet, blogs e esquecem que quem realmente fomenta tudo isso são as pessoas. “O importante não é a tecnologia, não é a interatividade, não é a TV Digital, o importante somos nós, que escrevemos e enriquecemos essas mídias”. Segundo ele o investimento maior deve ser feito nas idéias, “o que falta são idéias boas, se Cidade de Deus foi um grande sucesso, foi porque teve um sociólogo que fez pesquisas durante anos sobre aquele tema, … Meirelles foi lá e apenas transportou aquele estudo para as telas de cinema”.

A última apresentação foi a do premiado pesquisador Dr. Luiz Fernando Gomes Soares da PUC-RJ. Ao iniciar sua apresentação, o professor brincou com o futuro secretário do audiovisual do Ministério da Cultura Newton Cannito, “bom eu sou o cara da tecnologia, agora é a minha vez”. Em sua apresentação o professor concordou com o secretário e disse que a interatividade não é o “carro-chefe”  da TV Digital, a interatividade é bastante antiga, e essa nova interatividade na TV é até mesmo, “chata“. Ele frisou que a TV não é um computador, TV e internet são coisas completamente distintas, por isso a chamada convergência, “uma coisa complementa a outra“. A interatividade segundo ele, apenas “facilitará” o que já fazemos hoje.

O professor frisou que a interatividade deverá ser usada com parcimônia, com cuidado e apenas de vez em quando. Para ele a TV é “vídeo” e não “textos”. Além do mais a interatividade é cara, “em um programa de TV como o Você-Decide – onde você tinha 2 finais –  o custo final da produção era 2 vezes maior, com a interatividade se voce tiver 4 fluxos diferentes no programa, o custo será 32 vezes maior”. O professor garantiu que não espera que a interatividade na TV seje como as aplicações que existem hoje, “essas aplicações que mostro pra vocês são ridículas, foram feitos por engenheiros … a tecnologia é apenas o meio, nós, os engenheiros desenvolvemos esse meio para que vocês, os desenvolvedores de conteúdos façam o fim … eu espero que a interatividade na TV seje totalmente diferente disso porque o conteúdo final quem desenvolve são pessoas com criatividade”. O professor cobrou uma postura maior dos profissionais da comunicação em relação ao desenvolvimento de aplicações interativas “as aplicações que existem hoje foram feitos por engenheiros, as empresas que existem hoje são compostas por engenheiros, e nós realmente não temos a criatividade de vocês”.

A grande inovação da TV Digital brasileira, chama-se Ginga, e segundo ele não é o Java “a inovação que deixou o Ginga como o mais avançado no mundo foram as linguagens NCL e Lua. Com elas podemos fazer o que quiser”.  O professor demonstrou a aplicação interativa “O Primeiro João“, sobre o Garrincha, com foco principalmente na adaptabilidade, mostrando a possibilidade de focar sua aplicação para públicos distintos.

Até a próxima !!

Por Daniel A. Cruz
danielcruz733.wordpress.com
 

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